terça-feira, 29 de julho de 2014

Convivialidade com a maconha

Título Original: Bem-casado é coisa do passado: a nova moda nos casamentos é oferecer maconha

Buquê de casamento de Lauren Meisels e Bradley Melshenker: folhas de maconha ao lado de rosas MORGAN RACHEL LEVY / NYT

NOVA YORK — Este mês, quando Elle Epstein chegou ao rancho Devil’s Thumbe, em Tabernash, Colorado, para o casamento de seus amigos Lauren Meisels e Bradley Melshenker, ela, como outros convidados, encontraram um presente esperando no quarto do hotel. Mas ao invés de ser um guia de turismo da região ou um pote com mel feito na região, o embrulho contia um baseado, um isqueiro e um protetor labial feito de manteiga de manga e cannabis, além de um recado: “nós queremos te mostrar algumas das coisas que mais amamos”.


Ela soube então que o casamento no Colorado seria um pouco diferente dos que ela tinha comparecido no passado.

A boda dos Meisels e dos Melshenker parecia ter tirado sua inspiração não de uma revista sobre casamentos, mas da publicação pró-legalização “High Times”. Todos os arranjos florais, incluindo o buquê da noiva, continham uma variedade de flores misturadas com botões e folhas de maconha. Melshenker e seus padrinhos usavam lapelas feitas de corda e botões de maconha, e os três cachorros do noivo, que também compareceram à cerimônia, usavam coleiras feitas do mesmo material.

Antes do jantar começar, convidados receberam um broto de maconha em um pote de cerâmica com os seus nomes. As mesas foram nomeadas de acordo com diferentes tipos de maconha, como Blue Dream, Sour Diesel e Skywalker (a favorita do noivo). Elle Epstein, que estava sentada na Skywalker, disse que todo mundo na mesa, cujas idades variavam entre 40 e 70 anos, passaram adiante um espécie de cigarro eletrônico, que continha óleo de cannabis ao invés de nicotina.

— Não pareceu estranho ou bizarro. Ao invés disso, foi como uma forma de coquetel — diz ela.

Com a venda de marijuana legalizada para uso recreativo no Colorado e no estado de Washington, maconha e a sua parafernália estão se tornando comum em casamentos nesses estados, seja como brindes ou em narguilés.

Noivas e noivos, mesmo os que dizem que não fumam muito mas querem ser cordiais, estão dando aos convidados opções que vão muito além do vinho merlot ou chardonnay. Agora, o cardápio inclui cannabis como Tangerine Haze e Grape Ape.

— O uso de marijuana em casamentos saiu do armário — afirma a organizadora de festas Kelli Bielema, de Seattle. — Eu fiz um casamento recentemente em que havia uma caixinha com baseados dentro. Eles passavam e diziam, “aqui, aproveite”.

A escolha de fazer da maconha uma parte fundamental do casamento, senão central, foi praticamente inquestionável para Bradley Melshenker, de 32, e Lauren Meisels, de 34. Cannabis sempre teve um papel importante no relacionamento do casal, desde o começo. Lauren conheceu Melshenker em 2007, quando os dois viviam em Los Angeles. No primeiro encontro, eles fumaram um baseado juntos, e Lauren disse que estava procurando por um namorado que também fumasse. Cinco anos depois, o casal foi morar junto em Boulder, e abriram a Greenest Green, um centro de cultuivo de maconha, que eles recentemente venderam.

— A nossa vida toda nos últimos cinco anos foi maconha, maconha, maconha — conta Melshenker, que agora opera, ao lado da mulher, uma consultoria para interessados em abrir negócios relacionados à maconha e uma produtora de óleo de cannabis.
Muitos dos entusiatas da marijuana veem o alcóol como ultrapassado, uma droga à moda antiga cujo uso pode inflamar tensões familiares e levar as pessoas a falarem coisas horríveis, especialmente em casamentos. Em comparação, a maconha, eles defendem, ajuda a acalmar as pessoas e as fazerem a gostar mais uma das outras.

Antes de Jennifer e Chase Beck, de 27 e 24 anos, se casarem em maio, também no rancho Devil’s Thumb, eles discutiram brevemente se deveriam servir cupcakes com THC além dos tradicionais. O casal, que fundou o site Cannabase.io, acabou desistindo dos bolinhos, em parte porque era primavera, quando os rios estão repletos de neve e ursos estão saindo da hibernação — não exatamente o momento ideal para ficar chapado nas montanhas.
Porém, eles não hesitaram em servir baseados de uma erva chamada Space Cheese. Hoje, existem “budtenders” (espécie de “sommelier” que só trabalha com maconha ao invés de vinhos), para ajudar casais a encontrar a erva ideal para seu casamento. Bec Koop acaba de abrir um negócio, Buds and Blossoms em Alma, Colorado, em que aconselha aqueles que querem incluir maconha em seus pratos principais, saladas, buquês e lapelas. Koop acredita que os noivos devem escolher a folha do casamento com tanto cuidado quanto na escolha da música e das roupas. Algumas espécies ajudam a desinibir os convidados na pista de dança, enquanto outras relaxam até a mais nervosa das noivas.

— Se existem duas famílias que não estão tão felizes assim com a união, você pode encontrar uma erva que as façam mais eufóricas — sugere.

 Fonte: Ela vida

segunda-feira, 28 de julho de 2014

'Neodiscurso' sobre maconha: "a dependência é um problema relativamente menor"


Reprodução de Correio do Brasil

A prestigiada edição impressa do vetusto diário norte-americano The New York Times publicou, em editorial neste domingo, sua decisão de defender a legalização da maconha no país. A posição do NY Times funciona como uma pressão a mais para que o governo federal, que já autorizou a venda recreativa de maconha nos Estados de Washington e do Colorado, passe a descriminalizar o uso do cânhamo em todos os demais entes federativos.

“O governo federal deve revogar a proibição à maconha”, afirma o editorial, com todas as letras.

O NY Times pondera que “não há respostas perfeitas às preocupações legítimas da população sobre o uso da maconha”. “Mas também não há essas respostas sobre o tabaco ou o álcool, e nós acreditamos que, em todos os aspectos – efeitos para a saúde, impacto na sociedade e temas de ordem pública – a balança pende para o lado da legalização nacional”, pontua o jornal.

O diário norte-americano aponta, ainda, para as decisões sobre permitir a produção e o uso para fins medicinais ou recreativos se darão no nível correto: o estadual. Segundo o jornal, a posição editorial foi adotada “depois de uma grande discussão entre os membros do conselho editorial do Times, inspirado num movimento que vem se expandindo rapidamente entre os Estados por reformas das leis sobre maconha”.

Quase três quartos dos 50 Estados norte-americanos (34 e mais o Distrito de Columbia) já adotaram alguma mudança sobre o uso e a produção. O mais recente foi Nova York, que liberou, no último mês, a produção e o uso medicinal sob estritas regras. Para o NY Times, as evidências de que a dependência é um problema relativamente menor, especialmente se comparado ao álcool e ao tabaco, são “esmagadoras”. O jornal chama de “fantasiosos” os argumentos de que a maconha é uma porta de entrada para drogas mais perigosas.

“O uso moderado da maconha não parece colocar em risco adultos saudáveis”, afirma o jornal, que destaca defender a proibição do uso para menores de 21 anos.






sábado, 26 de julho de 2014

Homens Libertem-se: campanha apresenta um homem também vítima de opressão

Homens Libertem-se/Men Get Free é uma campanha artística e social proposta em parceria entre o coletivo mo[vi]mento-MG/RJ e o histórico e polêmico grupo The Living Theatre, de Nova Iorque, que vem crescendo consideravelmente com o auxílio de inúmeros voluntários e conta com parcerias como o músico Paulinho Moska, os cartunistas Laerte e Miguel Paiva, os atores Lucio Mauro Filho, Marcos Breda, Larissa Bracher, Flávia Monteiro, Igor Rickli, Aline Wirley, Álamo Facó, Nico Puig, Marcos Damigo, o escritor e produtor Nelson Motta, a escritora Elisa Lucinda, a escritora e apresentadora Marcia Tiburi, a escritora e historiadora Mary Del Priore, o deputado Marcelo Freixo , entre inúmeros outros grupos, artistas e profissionais de várias partes do país. O projeto pretende ser um chamado à reflexão em torno das muitas formas pelas quais o machismo prejudica também os homens, independente de sua sexualidade, devido às dimensões da construção social do homem na contemporaneidade, que os incita a se encaixarem num modelo de homem fixo e restritivo. Estas restrições geram uma opressão pouco discutida por ser mais velada, aceita e naturalizada, mesmo após as inúmeras reflexões do último século em torno dos direitos humanos – Portal Homens Libertem-se.

Manifesto Homens Libertem-se
- Quero o fim da obrigatoriedade ao Serviço Militar.
- Posso broxar. O tamanho do meu pau também não importa.
- Posso falir. Quero ser amado por quem eu sou e não pelo que eu tenho.
- Posso ser frágil, sentir medo, pedir socorro, chorar e gritar quando a situação for difícil.
- Posso me cuidar, fazer o que eu quiser com a minha aparência e minha postura, cuidar da minha saúde, do meu bem estar e fazer exame de próstata.
- Posso ser sensível e expressar minha sensibilidade como quiser.
- Posso ser cabeleireiro, decorador, artista, ator, bailarino; posso me maravilhar diante da beleza de uma flor ou do voo dos pássaros.
- Posso recusar me embebedar e me drogar.
- Posso recusar brigar, ser violento, fazer parte de gangues ou de qualquer grupo segregador.
- Posso não gostar de futebol ou de qualquer outro esporte.
- Posso manifestar carinho e dizer que amo meu amigo. Quero viver em uma sociedade em que homens se amem sem que isso seja um tabu.
- Posso ser levado a sério sem ter que usar uma gravata; posso usar saia se eu me sentir mais confortável.
- Posso trocar fraldas, dar a mamadeira e ficar em casa cuidando das crianças.
- Posso deixar meu filho se vestir e se expressar ludicamente como quiser e farei tudo para incentivá-lo a demonstrar seus sentimentos, permitindo que ele chore quando sentir vontade.
- Posso tratar minha filha com o mesmo grau de respeito, liberdade e incentivo com que apoio meu filho.
- Posso admirar uma mulher que eu ache bela com respeito, sem gritaria na rua e me aproximar dela com gentileza, sem forçá-la a nada.
- Eu sei que uma mulher está de saia – ou qualquer outra roupa – porque ela quer e não porque está me convidando para nada.
- Eu sei que uma mulher que transa com quem quiser ou transa no primeiro encontro não é uma vadia, bem como o homem que o faz não é um garanhão; são só pessoas que sentiram desejo.
- Eu nunca comi uma mulher; todas as vezes nós nos comemos.
- Eu não tenho medo de que tanto homens como mulheres tenham poder e ajo de modo que nenhum poder anule o outro.
- Eu sei que o feminismo é uma luta pela igualdade entre todos os indivíduos.
- Eu nunca vou bater numa mulher, não aceito que nenhuma mulher me bata e me posiciono para que nenhum homem ou mulher ache que tem o direito de fazer isso.
- Eu vou me libertar, não para oprimir mais as mulheres, mas para que todos possamos ser livres juntos.
- Eu fui ensinado pela sociedade a ser machista e preciso de ajuda para enxergar caso eu esteja oprimindo alguém com as minhas atitudes.
- Eu não quero mais ouvir a frase “seja homem!”, como se houvesse um modelo fechado de homem a ser seguido. Não sou um rótulo qualquer.
- Quero poder ser eu mesmo, masculino, feminino, louco, são, frágil, forte, tudo e nada disso. E me amarem e aceitarem, não por quem acham que eu deva ser, mas por quem eu sou. E por tudo isso, não sou mais ou menos homem.
- Quero ser mais que um homem, quero ser humano!
- O machismo também me oprime e quero ser um homem livre!


Nota do autor (Kayc Pereira):

Pode-se concluir através da campanha Homens Libertem-se, que há instituições de todos os tipos, espalhadas por todas as sociedades contemporâneas, que mantêm, reformam, constroem e impõem valores, normas, regras às pessoas, independente de gênero sexual, questões sociais ou étnicas. Tem dito que o homem é opressor, e é difícil contestar essa ideia, mas ela encobre o fato de ele também ser oprimido, seja qual for sua orientação sexual. O fato de ser homem não tira o caráter de seu corpo estar sujeito a subjugado, rotulado e agredido.  

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Estudante da USP contesta censura feita pelo Facebook

Em sua Tese de Conclusão de Curso, Wilheim Rodrigues mostrou imagens consideradas “pornográficas” pela rede social. Para ele, existe uma motivação política nessas censuras

Por Isadora Otoni - em Revista Fórum

Quando um amigo foi censurado por uma foto contra a homofobia, Wilheim Rodrigues ficou intrigado com o controle de conteúdo do Facebook. O estudante de Jornalismo da USP levou seus questionamentos a sério e decidiu focar seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) nesse tema.

Para Wilheim, a rede social possui extrema relevância, já que tem mais de 1 bilhão de usuários, sendo que 76 milhões destes são brasileiros. Isso significa que 1 a cada 3 pessoas no Brasil estão conectadas ao Facebook.

Através de pesquisa, registro e catalogação de casos de censura, ele concluiu o trabalho “FACEBOOK: Casos de censura no Brasil”. O estudante defendeu que a rede social não segue documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição da República Federativa do Brasil, mesmo atuando com força no país.
Essas imagens são consideradas pornográficas pelo Facebook (Reprodução)

Essas imagens não são consideradas pornográficas pelo Facebook (Reprodução)
Fórum – Algum caso específico te motivou a fazer o TCC?

Wilheim Rodrigues – Sim, um amigo foi censurado por uma foto na qual havia uma mensagem contra a homofobia. Naquele momento, me dei conta de que existia controle de conteúdo no Facebook. Até então, a ideia não havia passado por minha cabeça. E, se meu amigo que não era ativista teve conteúdo censurado, como deveria ser a remoção em perfis de pessoas que lutavam cotidianamente a favor de minorias e publicavam conteúdo anti status quo toda hora? Quem era responsável pelo julgamento do que era adequado ou não e deveria se dar o processo? A partir daí decidi que o tema seria minha tese de TCC.

Fórum – Você percebeu um padrão nas censuras do Facebook?

Wilheim - Infelizmente, falar sobre padrão de censura a partir de minha pesquisa é complicado. Por ser um trabalho de ordem qualitativa (no qual o conteúdo é o centro do estudo) e não quantitativa (em que o número de ocorrências do fenômeno é o ponto mais importante), posso apenas apontar tendências encontradas nos poucos casos analisados. De qualquer forma, entre os casos que encontrei, registrei e cataloguei, há uma predominância de remoção de conteúdo que apresenta conteúdo não conservador.

Fórum – Acha que essa é uma questão política?

Wilheim - Considero que há motivação política nas censuras efetuadas pelo Facebook, mas não no sentido de política partidária. A motivação a que me refiro, aqui, está centrada em uma definição de política enquanto escolha pautada por valores a favor de um grupo social específico. Fundamentando-se nos resultados que alcancei em minha pesquisa, pode-se observar que as retiradas de conteúdo seguem uma lógica de princípios conservadores, patriarcais e contra minorias que contestam padrões sociais estabelecidos. Logo, favorecem a uma determinada parcela da população em detrimento de outra, portanto as considero de ordem política.

Fórum – O Facebook é conservador?

Wilheim - Não tenho fundamentação teórica nem prática para dizer se o Facebook é uma empresa conservadora ou liberal, tampouco teria vontade de fazê-lo. O que posso, sim, é defender que é preciso equilibrar um pouco a visão de ambiente totalmente democrático que vem se formando com relação à rede social em questão. Existem políticas e ações da instituição que podem ser contestadas por apresentarem características não democráticas e devemos estar atentos para essas outras características do Facebook, entre elas suas definições de pornografia e nudez, seus processos de denúncia e sua quase nula interação com os usuários na formulação de diretrizes para a Declaração dedireitos e responsabilidades e para os Padrões da comunidade do Facebook.

Fórum – Há pouco mais de um mês, o Facebook anunciou que passa a permitir fotos de mães amamentando. O que acha dessa “conquista”? Foi uma reivindicação feminista?

Wilheim - Concordo com você ao definir, já em sua pergunta, que tal ação foi uma conquista. Conquista de um movimento iniciado, no Facebook, em 2008 com o grupo “Hey, Facebook, amamentação não é obsceno!”, cujos registros permanecem ainda hoje neste link: http://www.tera.ca/photos6.html. Foi sim uma reivindicação feminista no sentido de dar à mulher autonomia de expor o próprio seio durante a amamentação sem ser censurada pela conduta machista do homem que considera tal exposição erótica e, portanto, imoral segundo valores patriarcais. Ou seja, é um direito da mulher sobre o domínio do próprio corpo. E tal cenário se configura mesmo que, inicialmente, as mães do movimento não tivessem em mente tal preceito ao lutar pela mudança nas normas da rede social.



Para baixar o trabalho (TCC) em PDF na íntegra, clique aqui.