Título original: Criticar
a indústria Plus Size é preciso
Spartacus
Breches/Divulgação
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A
indústria da moda é construída sobre o pilar da padronização feminina. Para
fazer sucesso nesse ramo, muitos critérios de aparência física precisam ser
atendidos; e ser magra, certamente, é um dos requisitos mais importantes.
Apesar disso, alguns segmentos da indústria da moda têm concedido espaço para a
chamada “moda Plus Size”: uma alternativa supostamente voltada para as mulheres
gordas. Mas a maior parte das marcas, sobretudo por meio da publicidade voltada
a esse ramo, continuam reproduzindo exclusão e criando uma hierarquização de
corpos. Afinal, qual será o tamanho necessário para ser considerada plus size?
E por que os catálogos de roupas mostram mulheres tão parecidas umas com as
outras?
Para
entender esse fenômeno é preciso refletir sobre o que é considerado belo em
nossa cultura: o padrão branco e magro de beleza é mantido como o ideal e
mulheres realmente gordas ainda são carimbadas como feias, inadequadas e
desagradáveis aos olhos. A ideia de que existe um tipo certo de gorda, mais
frequentemente a mulher chamada de “gordinha”, “cheinha” ou “gordelícia”,
também colabora com a estigmatização das mulheres maiores.
Por
isso, ao passar as páginas de um editoral de moda Plus Size, é possível ver
várias fotos das ditas mulheres “cheinhas” ou até mesmo magras – geralmente
também com cabelos lisos e pele clara. Estrias e celulites, tão comuns nos
corpos das mulheres na realidade, são completamente inexistentes nessas
imagens. Editar a fotografia e modificar o corpo dessas modelos são práticas
comuns; ou seja, apesar da indústria alegar que gera inclusão, acaba por
reforçar padrões discriminatórios e irreais, além de naturalizar mentalidades
racistas e higienistas.
Veja fotos sem efeitos e retoques de Mulheres reais, projeto criado pela ativista Jes Baker em parceria com a fotógrafa Liora K, valorizando a beleza natural feminina - contribuição do autor (Kayc Pereira).
Não
há nada de errado em ter um corpo gordo com celulites e estrias e nenhuma
mulher deveria precisar se enquadrar em um padrão de “boneca” para ser
considerada bonita. A beleza pode até ser algo subjetivo, mas a indústria Plus
Size não parece concordar com essa afirmação, uma vez que perpetua todo tipo de
imposição estética sobre suas modelos. As mulheres realmente gordas, aquelas
que não têm o corpo meramente “cheinho”, acabam sendo ainda mais discriminadas,
considerando que nem mesmo o próprio ramo Plus Size abrange suas necessidades.
Pensando
nos tamanhos, formas e modelagens, a maioria massiva das roupas para gordas
encontradas no mercado nem de longe consegue atender a vasta diversidade de
corpos femininos. A começar pelas próprias gordas, que precisam procurar roupas
particularmente grandes mesmo para o padrão “Plus Size”, já que as roupas
comercializadas dificilmente vestem seus corpos. Além disso, nem toda gorda tem
um corpo curvilíneo, com seios grandes, cintura fina e quadris largos. Os
corpos gordos não são todos iguais e as donas desses corpos diversos também
querem roupas bonitas, de qualidade e de preço acessível.
Ainda
em tempo, há muito mais a ser criticado na indústria Plus Size. É preciso
lembrar que a padronização e a segregação de pessoas jamais deve ser aceita,
onde quer que esteja, até mesmo no ramo da moda. A indústria Plus Size não
fornece uma solução verdadeira para quem é gorda, mas toda mulher tem o direito
de se vestir com roupas de qualidade, confortáveis e adequadas para o seu
tamanho; é lamentável que algo tão simples ainda necessite de tantos protestos
para se tornar realidade.
Fonte: Questão de Gênero
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